domingo, 31 de março de 2013

Morbid Visions e Campo de Extermínio - vinil picture

A Cogumelo Records, de Belo Horizonte, é proprietária de um dos catálogos de heavy metal mais valiosos, mundialmente falando, dos anos oitenta. Seguindo tendência que nasceu com gravadoras estrangeiras, aos poucos a Cogumelo também vai lançando alguns de seus títulos mais emblemáticos em edições limitadas no formato picture vinil. O INRI e o Rotting, ambos do Sarcófago, o Schizophrenia, do Sepultura, e o Immortal Force, do Mutilator, já tinham sido anteriormente disponibilizados. Agora é a vez do Morbid Visions, primeiro full lenght do Sepultura, e do Campo de Extermínio, debut do Holocausto. Embora as edições não sejam tão caprichadas, por exemplo, quanto os recentes lançamentos da NWN, dos EUA, ou da Iron Bonehead, da Alemanha, ainda assim são bem bacanas. Os pictures estão bem impressos, em frente e verso, seguindo escrupulosamente a arte gráfica dos vinis originais:







Acompanham os discos um pôster com a reprodução ampliada das capas. O site da Mutilation (parceira da Cogumelo nesses relançamentos) anuncia que, na seqüência, será disponibilizado o picture da clássica coletânea Warfare Noise 1 (com Chakal, Sarcófago, Holocausto e Mutilator). Da última vez que estive na loja da Cogumelo, em Belo Horizonte, o João (proprietário) me disse que eles também estão trabalhando numa compilação que contará com todas as demos do Sarcófago - mas não sei se será ou não em picture. O lançamento oficial dessa coletânea de demos é desejo antigo de colecionadores e significará o fim dos bootlegs meia-boca do Sarcófago que hoje inundam o mercado.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Relançamentos em vinil - The Crypt

Bom, agora vou mudar a pauta e falar um pouco de relançamentos em vinil.
Não é segredo para ninguém que, logo após a popularização dos cds, o velho vinil foi quase completamente abandonado. Demorou certo tempo para que a maioria dos colecionadores percebesse que o cd, em certos aspectos, ficava devendo em relação à antiga bolachona. Afinal uma capa menor significa menos espaço para a arte gráfica, assim como uma compressão sonora maior significa menos espaço para as ondas médias. Por essas e por outras razões o vinil foi ressuscitado, ainda que seu público esteja hoje limitado quase inteiramente a colecionadores die-hard. No metal a onda do vinil atingiu pesadamente os lançamentos de antologias: compilações de material de bandas dos anos oitenta ou início dos noventa (principalmente) que incluem seus eventuais discos de estúdio, eps, demos, ensaios e faixas ao vivo, em versões boxset duplas, triplas, quádruplas (o céu é o limite) em vinil. Algumas dessas edições são impressionantes, consistindo em verdadeiros livros, grossos e com lombadas. Muitas são as gravadoras underground que exploram esse nicho, normalmente comandadas, elas mesmas, por fanáticos metalheads colecionadores. Uma das mais legais a surgir por aí foi a americana The Crypt. Seus lançamentos são super-caprichados, contendo capas duplas/gatefolded, vinis coloridos, encartes detalhados, pôster, etc. Um tesão para o colecionador! Os preços, claro, são bem mais salgados do que o de um cd comum. Contudo, o que mata mesmo, para o comprador brasileiro, é o frete, que faz o vinil dobrar de preço. A alternativa é adquirir o vinil, quando possível, em uma grande loja on-line e aproveitar para fazer um pedido maior, porque aí o custo relativo do frete tende a cair. Recentemente fiz uma compra em pre-order na The Crypt. Garanti minha cópia em versão quádrupla da discografia do Nuclear Death dos EUA (uma das bandas mais toscas já vomitadas pelo underground death metal americano do começo dos anos noventa). Olhem só a qualidade do lançamento:




PS. Escolhi a versão com o vinil na cor verde, isto é, nesse azul desbotado aí acima. Há ainda disponível as versões na cor amarela e no tradicional black wax. Sei de colecionadores (ainda mais compulsivos do que eu) que compram todas elas.

domingo, 24 de março de 2013

Skullhog "The Evil Dead"

A lista de bandas de metal explicitamente influenciadas por filmes sanguinolentos de horror é extensa. Mortician, Impetigo, Gruesome Stuff Relish, Necrophagia, Blood Freak são nomes que vêm fácil à cabeça. O holandês Skullhog é uma das últimas adições à lista. Não que os caras sejam novos na cena. Sob o nome Bile já militavam no underground metálico há tempos, tendo gravado, inclusive, um disco conceitual (Camp Blood) sobre a saga Sexta-Feira 13. Agora, o filme homenageado é o clássico The Evil Dead. Mas não foi somente o filme tema que mudou. O som do Skullhog, embora conserve similaridades, é diferente do som do antigo Bile. Enquanto este atacava de splatter old school com muitas partes cadenciadas e meio-tempo, o Skullhog é menos hermético, mesclando influências tanto do splatter quanto do death metal clássico. Em certos momentos, soa como um Autopsy do Mental Funeral mais estruturado em cima do splatter. As guitarras (afinadas muito abaixo do convencional, como é praxe no estilo) despejam riffs absurdamente pesados e cheios de camadas, que envolvem a música num clima de distorção abissal. O baixo podrão mas bem discernível também chama a atenção. Num momento ou noutro irrompe um groove imundo meio grind 'n' roll, como na fixa título The Evil Dead, que vai na linha do que o Pungent Stench fez no Been Caught Buttering e do que o Mucupurulent, da Alemanha, costumava fazer no início da carreira. Contudo, esses momentos são breves. A proposta do álbum, sem dúvida, é investir no peso fúnebre. Até por isso, não há passagens grind, abundando as doom. Pena que o disco tenha apenas vinte e dois minutos. Dada a qualidade da música, não seria nada demais ter-se dobrado seu tempo de duração. Justa homenagem de uma excelente banda para um excelente filme.


The Evil Dead - o disco


The Evil Dead - o filme

sexta-feira, 22 de março de 2013

Infernal Curse "Awakening of the Damned"

A Argentina tem uma história muito modesta no cenário metal. Poucas são as bandas portenhas que conseguiram registrar seu som em disco e, dessas, quase nenhuma (para não dizer nenhuma) alcançou reconhecimento fora do seu próprio país. Por isso, fiquei surpreso ao deparar com o cd desse excelente Infernal Curse, lançado pela gravadora de black metal grega Kill Yourself Productions. Uma rápida olhada no encarte e matei a charada. O Infernal Curse é a nova banda de Eric Lancon, editor do zine Baphometal, a mais underground, radical e tosca publicação de metal extremo que conheço. Assim como o zine, a banda do Lancon (vulgo Nocturnal Death Metal Warrior, Nocturnal Profaner) reza pela cartilha do que de mais maldito o death/black metal oitentista produziu. Citações a Sarcófago (principalmente) e a Death antigo são generosas, conforme se constata nas levadas rápidas de bateria à la D.D. Crazy (batera do Sarcófago no mega-clássico INRI) e nos riffs cadenciados à la Death do Scream Bloody Gore. As semelhanças com Sarcófago não param por aí. O vocal parece uma versão mais death metal do Wagner Antichrist, enquanto os riffs acelerados poderiam ter sido tranquilamente tirados das sessões de gravação do INRI. A produção é muito boa, tendo em vista a proposta seguida pela banda: abafada e pesada, mas sem tornar tudo uma maçaroca indistinta. As partes cadenciadas (onde a influência de Death se faz mais presente) são especialmente bacanas e, apesar de simples, mostram musicalidade até certo ponto surpreendente para alguém de background tão radical quanto o Lancon. Destaco a faixa de abertura, Black Faith, na qual os elementos de speed e os mais cadenciados estão muito bem mesclados. A discografia do Infernal Curse registra, para além desse full lenght, duas demos (que já corri atrás e consegui) e dois eps (um deles ainda me falta e está na minha wish list), materiais que apresentam potencial para se tornarem rapidamente itens disputados de colecionador.
 
 
Awakening of the Damned - 80 death/black worship!

Infernal Curse
 

quarta-feira, 20 de março de 2013

Demonomancy (ESP) "Supremacy through Intolerance (The Last Legacy)"

De uns anos para cá se tornou corriqueiro bandas de war black metal (e também de death old school) gravarem no antigo formato demo-tape e, posteriormente, relançarem o material dessas demos em cd. A verdade é que com a facilidade atual de gravar em digital não tem mais sentido gravar nada em tape. Trata-se puramente do famoso espírito vintage, que predomina no underground. O mesmo espírito que ainda garante sobrevida ao velho e cultuado vinil. O espanhol Demonomancy (não confundir com o homônimo italiano) enveredou por esse caminho. Temos aqui uma compilação em cd apresentando suas duas demos anteriores: Holocaustic Winds of Devastation, de 2008, e Supremacy through Intolerance (The Last Legacy), de 2009. A música é absolutamente infernal. Um war black ríspido e agudo totalmente influenciado por Conqueror, com algo de Black Witchery na rifferama das guitarras. Os vocais não são monocórdicos e se alternam entre vômitos estridentes e rosnados graves, o que confere dinamismo ao som. Vocais e guitarras, aliás, foram privilegiados na mixagem, que deixou a bateria mais escondida e o baixo (se é que existe) inaudível. A produção é confessadamente pútrida (ligeiramente mais polida na segunda demo), mas não prejudica o entendimento da música. Tudo como convém ao estilo. O Demonomancy até se aventurou a inserir partes candenciadas em seu som, o que é bem raro em se tratando de war black metal. O resultado ficou muito legal, como se vê na faixa Allegations of Immorality, Sublime Art of Accusations (uma das melhores do play), que deu à banda um elemento de personalidade. Pena que o grupo, aparentemente, tenha encerrado as atividades. A ver se no futuro seus integrantes não voltam a conjurar forças em novos empreendimentos tão alvissareiros quanto esse ótimo Demonomancy.

Supremacy through Intolerance (The Last Legacy) - compilação

O feroz duo do Demonomancy

sábado, 16 de março de 2013

Black Prophecies "Descent into Hell"

Ainda dentro do underground italiano, falo agora do mítico Black Prophecies. Com a recente enxurrada de lançamentos de compilações de demos antigas, era de se esperar que o velho material do Black Prophecies ganhasse sua edição em cd. Não deu outra. Coube à gravadora Terror from Hell trazer novamente à luz o som obscuro dos italianos.
Vale rememorar. O Black Prophecies, juntamente com bandas do quilate do Malfeitor e do Hellhouse (EUA), do Poison (Alemanha), do Mefisto (Suécia), do Crucifixion e do Beleth (Japão), e do Necrobutcher e do Necrovomit (Brasil), pertencia ao grupo de bandas "malditas" do fim dos oitenta. Bandas que levavam o black/death metal da época aos seus limites e que não conseguiram, até pelo seu radicalismo, sair da fase de demos.
Nessa compilação temos as três demos da banda - Azathoth, de 87, Unholy Rehearsal, de 88, e Turning the Crosses Towards Hell, de 91 -, além de três ensaios nunca antes lançados. A qualidade da gravação é horrível. E "horrível", aqui, não significa gravação suja e underground, que acaba sendo ponto positivo ao invés de negativo. Não, significa gravação abafada, guitarras esmaecidas, bateria escondida e vocal quase inaudível. Uma pena, porque o material apresentado, principalmente na demo Azathoth, é muito interessante. Uma mistura primitiva, soturna e orignal de black/speed/doom/death metal. Imagine o rebento grotesco parido da cruza blasfema de Hellhammer com Bathory (antigo) sendo acalentado no berço pela lenda americana do black/doom Goatlord. A música é por aí e segue, quase sempre, a mesma estrutura: começa com um riff cadenciado para acelerar num speed algo caótico (e cheio de trêmolo) e encerrar novamente num doom. A melhor faixa é The Keys of Satan's Kingdom, presente nas demos de 88 e 89, que conta com um riff de abertura simples e memorável. Consta do encarte do cd que os caras iriam gravar seu disco de estréia pela famosa gravadora underground americana (famosa principalmente pelos consabidos calotes que aplicou nos músicos com os quais assinou na época) Wild Rags. Até o título já estava escolhido: Abominations from the Abyss. Pena que não rolou. Teria sido muito interessante ver o que a banda poderia alcançar com condições de gravação um pouco melhores. De todo modo, trata-se, inegavelmente, de um pedaço relevante da história do black/doom metal oitentista.

Descent into Hell - compilação

O visual nada radical do radical Black Prophecies

quinta-feira, 14 de março de 2013

Excidium "Infecting the Graves Vol. 1"

Durante os anos oitenta quase não se ouvia falar da Itália em matéria de heavy metal (ao contrário do punk, gênero no qual os italianos sempre foram ativos). Tirando nomes como Bulldozer e Necrodeath, pouquíssimas bandas alcançaram reconhecimento fora do círculo de tape-traders mais dedicados. O Excidium pertencia ao grupo dos desconhecidos. A Despise the Sun Records, gravadora e distribuidora famosa por sua militância no brutal death metal, fez-nos o favor de desenterrar os italianos das areias do tempo. Nessa compilação temos duas demos e um ep.
Em Symphonies of Death, demo de 1987, o Excidium destila um excelente e mortal deaththrash, lembrando o que o brasileiro Mutilator fazia na mesma época, embora os italianos sejam menos crus e apresentem uma influência muito mais forte de Slayer (fase Reign in Blood). A faixa White Chapel 1888  se destaca, com uma parte mosheada no meio que é de levantar defunto pogando do caixão. A outra demo, Virus Tenebrarum, de 88, embora vá na mesma linha, com a adição de alguns momentos mais melódicos, não tem a mesma intensidade. Ainda assim é legal. Já no ep Infecting the Graves, lançado originalmente em 92 pela fancesa Adipocere, o Excidium limou do seu som a influência thrash e abraçou totalmente o death metal, numa veia mais cadenciada. O resultado, contudo, não agrada e talvez tenha contribuido para o fim da banda. De se lamentar que não tenham sido incluídas as demos Antropophagy, de 90, e Defunto, de 91. Um lançamento em cd duplo com esse material compelto seria muito bem-vindo, dada a evidente qualidade da banda, especialmente em sua fase deaththrash. Recomendado!


Symphonies of Death - demo 1987


Infecting the Graves Vol. 1 - compilação

terça-feira, 12 de março de 2013

Brazilian Ritual - SP 22/06/13

Até onde sei, é o primeiro festival internacional de war black metal a ser realizado no Brasil. Notícia tirada do site da Nuclear War Now - a Mutilation ainda não está divulgando o evento. O seminal Black Witchery (que eu vi recentemente no NWN Festival em Berlim) dividirá o palco com o lendário Archgoat, da Finlândia, e os brazucas bestiais do Impurity e do Grave Desecrator. Mais um evento produzido pelo batalhador Tulula, da Mutilation Records. Simplesmente não dá para perder!

Black Witchery incendeia a galera (NWN Festival III)


sábado, 9 de março de 2013

Festival rulz!

Ir a um festival europeu é uma experiência inesquecível. Mais do que inesquecível, é obrigatório. Quase como ir a Meca para um muçulmano. Além de ter-se a chance de assistir a bandas que raramente ou nunca vêm ao Brasil, é uma ótima oportunidade para garimpar-se raridades em demo ou vinil e até trocar idéias com bangers de outros países. Nunca é demais lembrar, também, que a Europa oferece muito mais do que simplesmente ir aos shows, o que garante a contrapartida para quem tem esposa e filhos. Enfim, vale demais a pena e se você se agendar com cuidado dá para ir sem ter que vender o carro (por exemplo: voando com milhas). Com certeza é algo que, ao se realizar uma vez, tende a tornar-se um hábito por toda a vida.

O encerramento

Na seqüência veio o apocalíptico Revenge. Meu amigo, é impressionante a massa sonora que o power trio canadense consegue produzir ao vivo. Supera o já hecatômbico som registrado em estúdio. Um negócio realmente atordoante. Sem dúvida foi o show mais brutal que já vi em minha vida. Ao contrário do Black Witchery – hoje talvez o outro grande nome do war black metal – o Revenge aposta mais na agressão do que na morbidez do peso, dando preferência a riffs mais esporrentos e a um timbre de guitarra mais agudo e cortante. Sem dúvida alguma são os legítimos sucessores do finado Conqueror. Possivelmente o melhor show do festival. Para fechar a noite, aquele que dispensa apresentações: o Blasphemy. Confesso que fiquei emocionado ao ver o Caller of the Storms e o Black Winds em cima do palco, fitando a platéia, na espera do fim da introdução do Fallen Angel of Doom, para iniciar o show. Lembrei-me dos tempos em que ouvi o disco a primeira vez, em 1991 ou 92, época em que o death metal imperava e o black metal existia apenas no underground mais obscuro. O radicalismo da música, totalmente influenciado por Sarcófago, converteu-me em fã imediato da banda. Sem conversa nem perda de tempo, e com ótima qualidade de som, executaram fielmente todos os seus clássicos, durante a mágica uma hora do show, inclusive Gods of War, o hino de pouco mais de vinte segundos que, na minha opinião, condensa tudo o que o war black metal deve ser. Tinha certo temor de que, dado o longo tempo sem gravar nada inédito – vinte anos –, o Blasphemy tivesse virado um cover de si mesmo. Tipo essas bandas antigas que fazem turnês de gratest hits por anos a fio. Qual nada! Os caras estão super afiados, em plena forma. Será um crime se não gravarem material novo. Lenha os caras já provaram que ainda têm para queimar.


Revenge


Blasphemy - os deuses do war black metal


Mais lenha na fogueira

Coube ao Proclamation dar continuidade ao festival. Tarefa ingrata. Mesmo assim, o eficiente clone espanhol do Blasphemy cumpriu a contento sua missão e conseguiu manter a galera ligada com o seu Ross Bay Cult. Em seguida entraram em cena os australianos do Ares Kingdom. Francamente, o death/thrash mediano da banda é muito light e excessivamente genérico para um festival desse tipo. Resultado: o público caiu pela metade. Muita gente aproveitou a ocasião para ir fumar lá fora ou caçar coisa no metal market. Já eu aproveitei para beber e recobrar as energias, ainda exauridas pelo matador show do Black Witchery. O Morbosidad, que havia sido remanejado do dia anterior, atraiu novamente a atenção do público para o palco. O som dos chicanos é muito legal e totalmente sintonizado com o espírito de festival. O seu primeiro full lenght é um marco do estilo. A apresentação, contudo, deixou um pouco a desejar. A banda não parecia muito coesa, talvez pelas excessivas mudanças de formação. A impressão é que, hoje, o Morbosidad é menos uma banda e mais um projeto do Tomas Stench (o vocalista) acompanhado por músicos de ocasião. Em seguida entrou em cena o lendário Sabbat, do Japão. Quem já viu um show do Sabbat sabe o que esperar: uma heavy/speed metal parodiando Venom, com direito a gritos agudos do vocalista e aos integrantes da banda vestidos com as indefectíveis tangas de couro. Muita gente acha a banda ridícula e se você não entrar no espírito fica difícil curtir os caras. Lá no início da carreira, nos míticos anos oitenta, os japas se levavam mais a sério, mas hoje a auto-ironia impera. Som simples e divertido. Foi legal para quebrar a sisudez do festival.


Proclamation



Os japas malucos do Sabbat

quinta-feira, 7 de março de 2013

Black Witchery incendeia a galera

Para estrear o segmento de bandas com quarenta minutos disponíveis, entrou em cena a lenda Black Witchery, da Flórida. Sou suspeito para falar, pois o Black Witchery é, atualmente, uma das minhas bandas preferidas. Upheaval of Satanic Might, o segundo full lenght deles, ocupa o topo da minha lista como melhor disco de war black metal lançado depois dos clássicos seminais do Blasphemy, do Bestial Warlust e do Sarcófago. A presença de palco do trio americano é impressionante. Vestidos dos pés à cabeça com longos mantos negros, os caras mais parecem entidades infernais invocando seu som imundo, hiper-acelerado e pesadíssimo, diretamente do abismo do desespero, de forma inclemente, praticamente emendando uma música na outra. A fúria malévola com que o Impurath (vocalista e baixista da banda) vocifera as letras merece registro especial. Esse foi o único show a que me atrevi a entrar na roda de pogo, particularmente agressiva durante aquela apresentação. Como resultado do empurra-empurra, perdi quase todos os bottons que tinha prendido à camisa. Show absolutamente insano, que teve, como em quase todas as bandas, ótima qualidade sonora. Que me desculpem os organizadores, mas o único grupo que poderia tocar depois do Black Witchery seria o próprio Blasphemy (ou o Revenge). Qualquer outro equivaleria a diminuir a intensidade do negócio!



Black Witchery - Ross Bay Cult eternal!

O segundo dia

Perdi o curtíssimo set da primeira banda, o bom Bestial Raids, death/black da Polônia. Preferi fuçar novamente o metal market. Em seguida veio o inglês Adorior, tocando ainda para um pequeno público. O som dos caras é esmagador, um thrash metal afiadíssimo, ultra-mega-rápido, recheado de cadências altamente headbanging, e executado numa insana pegada war black metal. A mina no vocal realmente bota os pulmões para fora! Se você ainda não os conhece, trate de arranjar, ao menos, o último play deles: Author of Incest. De todo modo, mesmo que tenha sido um ótimo show, fiquei com a impressão de que em estúdio a banda soa ainda melhor. O tétrico Embrace of Thorns veio em seguida e foi muito bem recebido por uma platéia já bem maior. O death/black da banda grega é um dos mais originais do estilo e, no último play, eles chegaram a um nível de profissionalismo e precisão raros, talvez só comparável ao atingido pelo Blasphemophagher, embora o som das duas bandas seja muito diferente. O Embrace of Thorns injetou uns climas mais rebuscados e até um pouco de melodia na sua música, mas isso não o tornou menos sombrio ou comprometido com o underground mais duro. Trata-se de banda altamente recomendada! Mais um show competente.



Adorior


Embrace of Thorns - ao vivo na primeira edição do NWN Festival



O encerramento do primeiro dia

Para fechar o primeiro dia do festival tivemos a lenda Rotting Christ, desfilando em uma hora apenas sons dos três primeiros trabalhos: Passage to Arcturo, Thy Mighty Contract e Non Serviam. Chamar o Rotting Christ para fechar um evento underground desses foi arriscado. Desde que os gregos enveredaram pelo abjeto gothic metal, perderam toda a confiança do público de metal extremo. Ouvi dizer que, nos últimos discos, eles voltaram a tocar numa linha mais black metal. A julgar pelo que ouvi, só se for black metal farofa tipo Cradle of Filth. Reconheço que os caras são profissionais, tocam bem e fazem um show competente, mas a verdade é que perderam totalmente o feeling para tocar música extrema. Basta ver como assassinaram a infernal e hipnótica Feast on the Grand Whore, do mega-clássico Satanas Tedeum. Nota: muita gente foi embora ao fim do show do Dead Congregation, o que mostra que minha opinião não é isolada.





Rotting Christ - antes de afundar no metal farofa

Os shows prosseguem

O Wrathprayer, do Chile, foi a única banda da América do Sul a participar do evento, o que não deixa de ser surpreendente, dado que nosso continente é um dos responsáveis por parir o war black metal. Confesso que não conhecia o som deles, mas já virei fã! Banda na velha e sacrossanta tradição do Sarcófago. Primeira coisa que fiz ao voltar para o Brasil foi importar o full lenght de estréia deles, intitulado The Sun of Moloch, lançado pela Nuclear War Now. O Morbosidad, atualmente sediado no México, ia tocar em seguida, mas um pequeno atraso (pequeno mesmo!) fez com que seu show fosse remanejado para o dia posterior. O Dead Congregation foi a última banda a subir ao palco antes da atração principal. Em cinqüenta minutos os gregos despejaram sua música dura e fúnebre influenciada (como tantas outras) pelo Incantation, embora numa pegada mais doom. Ainda que curta o som deles, acho que outras bandas do cast mereciam tocar mais tarde e, conseqüentemente, dispor de mais tempo para se apresentar. Cito, por exemplo, o Blasphemophagher. Mas tudo bem. Aparentemente, e a julgar pelo tamanho do público, eles estão hoje com mais moral do que os italianos.



Wrathprayer




Dead Congregation

domingo, 3 de março de 2013

As primeiras bandas

A abertura do festival coube ao estranho Knelt Rote. Para um público de uma dúzia de gatos pingados – o grosso da galera preferiu ficar nas barraquinhas de vinis ou fumando numa área aberta contígua – a banda mandou ver seu set de meros vinte minutos. O som deles é bem embolado, um death metal com pitadas ambient/industriais super abafado e hermético. Achei mais ou menos. Depois veio o Anatomia, banda de doom/death japonesa que eu curto muito, nascida das cinzas do antigo Transgressor. Recentemente eles adicionaram uma tecladista à formação e, em alguns momentos, me pareceu que as guitarras perderam demasiado espaço. Para tirar a prova só ouvindo o novo disco deles, o que ainda não fiz. A primeira banda a tocar que pode ser considerada black/death metal (o mote do evento) foi o Pseudogod. Já com uma platéia bem maior, os russos, usando o típico corpse-paint do black metal, fizeram um show correto de pouco mais de meia hora, mostrando suas músicas influenciadas pelo antigo Beherit e pelo black norueguês de raiz. Destaque para o vocal grave, que faz um contraponto legal com o som mais black do grupo. Em seguida veio o Antediluvian, que foi a primeira banda a realmente me impressionar. O som dos canadenses é incrivelmente denso, uma espécie de Incantation com riffs mais técnicos e estranhos. Dada a massa sonora, fiquei assombrado com o fato de que conseguiram evitar que tudo virasse uma maçaroca só. Para os padrões do metal radical, deu para ouvir na boa. O ótimo Blasphemophagher, da Itália, veio na seqüência e quebrou tudo (até um baixo) com seu legítimo war black metal inspirado em Blasphemy e quejandos. Uniformizados com a roupa de guerra do estilo – olhos pintados de preto, spikes de cinqüenta centímetros, cintos de balas sobre cintos de balas, e máscaras de gás –, os caras detonaram um set de quebrar o pescoço. Vale ressaltar que o Blasphemophagher vem investindo numa vertente do war black que ressalta a precisão técnica na execução da música, em detrimento dos elementos mais noise também abundantes no gênero, na linha oposta, por exemplo, do que faz o assustador Deiphago, das Filipinas. Por vezes, o som do Blasphemophagher acaba soando próximo ao thrash metal. Muito bom! Mas há que se ter cuidado. Esse negócio de começar a trampar o som é perigoso. Vejamos o que acontece nos próximos discos dos caras.



Anatomia

Antediluvian

Blasphemophagher

O warm-up

Tendo chegado a Berlim no mesmo dia, fiquei com preguiça de ir ao warm up do festival, que foi realizado em outro lugar, no Blackland Club. Lá tocaram, na ordem, o Demonomancy, o Vanhelgd, o Bunkur e o Abigail. Lamentei apenas não ter visto o Demonomancy, da Itália, que toca um war black bem interessante, já tendo um par de demos e um ep lançados. O Abigail atual, embora ainda seja prestigiado no underground, não faz meu estilo. Excessivamente party rock. Curto mesmo é a fase bem antiga, quando tocavam black metal no estilo do Bathory do The Return.

O ambiente (parte 2)

O festival foi sold out, mas a casa não ficou abarrotada. O pessoal lá se preocupa com conforto e segurança. Dentro era possível ouvir gente falando um monte de línguas: inglês, alemão, francês, japonês, italiano, russo, espanhol, romeno (foneticamente perece italiano), norueguês e sei lá mais o quê. Não ouvi ninguém mais falando português, embora tenha visto uma bandeira do Brasil ser agitada na fila do gargarejo, durante o show do Rotting Christ. Outra coisa que me chamou a atenção e dá uma pista do radicalismo underground do festival: não havia uma única pessoa com camisa do Iron Maiden. Nada contra o Maiden, mas a banda é absolutamente mainstream, ao menos no cenário metal. Vi gente com camisas e patches de jaquetas de bandas como Necrovore, Deiphago, Autopsy, Black Witchery, Morbosidad, Venom, Beherit (aos montes), Blasphemy (também aos montes), Conqueror, Archgoat, Revenge, Necros Christos e de brazucas como Sarcófago, Mutilator, Vulcano, Holocausto, Mystifier e até do obscuro colombiano Reencarnación, cult black thrash de fim dos oitenta. Pelo menos metade do pessoal tinha jaquetas cobertas com esses patches. Algumas deviam contar mais de cinqüenta nomes de bandas! Durante todo o festival dava para encontrar integrantes das bandas andando em volta das barraquinhas, como o Caller of the Storms e o Black Winds, ambos do Blasphemy (anedota: minha esposa encontrou o baixista do japonês Anatomia na seção de roupas infantis num shopping popular vizinho ao festival e, mesmo não sendo fã de metal, tirou uma foto com ele: os caras são radicais na música, mas poucos fazem aquela pose cansativa de from hell). Embora boa parte do público fosse formada por uma galera visivelmente mais antiga – aí pelos trinta e tantos (como eu), quarenta e poucos anos – apareceu também uma garotada bem nova. Sinal de que o metal ainda é um estilo que tem algo a dizer para a juventude de hoje. Felizmente!


Calibrando para o show

O ambiente (parte 1)

Para quem nunca foi a um festival europeu – era o meu caso –, a comparação com a estrutura média de shows underground no Brasil provoca um choque imediato. Nada de atraso, som ruim ou barraquinhas vendendo os mesmos CDs óbvios. O negócio lá é puta profissional. Para começo de conversa a produção alugou um clube famoso localizado na antiga Berlim Oriental, o Fritzclub. O lugar, ao que deu para sacar, é uma antiga fábrica, que foi adaptada com sucesso para servir de boate e casa de shows. Fiquei num ótimo hotel a trezentos metros do clube. Hoje, com a internet, é possível planejar tudo! Na entrada da casa tem uma chapelaria e você já pode deixar lá os seus casacões (fazia uns oito graus na rua). Mais importante, pode deixar lá também as bugigangas que comprar no metal market do festival. Sim, porque ir num festival desses e não comprar nada é impossível. A quantidade e qualidade do material disponível é de ficar perplexo. Pilhas e mais pilhas de vinis, eps, pictures, demos, boxes especiais, zines, camisas e, claro, um dilúvio de CDs. Em uns quinze minutos eu já tinha gastado quinhentos euros! Os europeus são muito privilegiados nesse aspecto. Além dos próprios shows, têm acesso fácil a um monte de material raro, sem custo de frete nem o perigo de ter de pagar o extorsivo imposto de importação brasileiro de sessenta por cento. A única decepção foram os preços. Em lojas online certos itens estavam mais baratos do que os praticados no metal market do festival. Vale notar que o pessoal compra mesmo, não fica só olhando. O que rola de grana num evento desses não é brincadeira.
 
Na frente do Fritzclub
 

O festival

Já há tempos andava de olho no festival anual promovido pela americana Nuclear War Now Productions em parceria com a alemã Iron Bonehead. Perdi as duas primeiras edições, realizadas em Berlim nos anos de 2009 e 2010 (em 2011 não rolou). Quando vi o cast para a terceira edição (2012), decidi que era hora. A fissura foi tanta que comprei o ingresso antes mesmo de ter dinheiro suficiente para a viagem. Dois dias, com dez horas cada, dedicados a algumas da melhores bandas de metal extremo não dá para perder!
Meu amigo, se você é fã de war black metal (aka bestial black metal, death/black metal, grind black metal), eis o festival a que deve ir. Em 2012 a banda de fechamento anunciada foi simplesmente o Blasphemy, do Canadá. Para os antigos adoradores do estilo, o Blasphemy dispensa apresentação. Para quem não é assim tão antenado com o underground metálico mais radical, vale registrar que o Blasphemy, juntamente com o Sarcófago – influência reconhecida no som dos canadenses –, estabeleceu, lá no fim dos oitenta/início dos noventa, os parâmetros do estilo, quando sequer existia o rótulo war black metal. O estouro do black metal norueguês em meados dos noventa deixou o war black metal em segundo plano, confinado ao porão do underground. Mas parece que, nos últimos anos, com a superexploração e o conseqüente esgotamento do black metal nórdico, surgiu um vácuo que vem sendo ocupado por essa versão mais visceral do black metal. Noto que tem uma galera, tanto bandas como fãs, migrando de um estilo para o outro. Repetição de história velha. Basta lembrar-se de vinte anos atrás, quando muitas bandas de death metal se bandearam para o lado do black metal.
Nesse contexto, de esgotamento do black norueguês, é que surgiu o festival anual da Nuclear War Now Productions. Em meados dos noventa, contavam-se nos dedos de uma mão as bandas ativas de war black metal. Hoje, já são vários os nomes. Dos mais conhecidos, quase todos tocaram no festival.

Início de conversa

Para iniciar a conversa vou postar minha resenha sobre um festival a que fui no fim do ano passado em Berlim, na Alemanha. Trata-se da festa anual da Nuclear War Now Productions, selo especializado em relançamentos em vinil de bandas cult de death e black metal do fim dos oitenta e início dos noventa. A Nuclear War Now também conta em seu cast com algumas da principais bandas de war black metal da atualidade. Em suma, um dos melhores selos de metal extremo que se pode encontrar (e olha que não estou sendo pago para dizer isso!)




Vou me apresentar...

Olá,
Sou fã e colecionador de heavy metal e música pesada em geral desde o final dos anos oitenta. Hoje, aproximando-me dos quarenta, continuo um aficcionado. Minha coleção de cds está chegando a quatro mil discos e, a de vinis, à metade disso (sem falar das demos, zines, dvds, etc). Catálogos de raridades são leitura habitual para mim, além das newsletters de gravadoras e distrubuidoras de várias partes do mundo. O meu objetivo, com este blogue, é compartilhar descobertas musicais no cenário metal, bem como comentar shows relevantes a que tenha ido. Eventualmente também postarei opiniões sobre livros, revistas ou zines. O que pautará o tema dos post será o que eu estiver ouvindo ou lendo no momento. As postagens não serão diárias. Entretanto, não haverá semana sem novidade no blogue. Tomando por base a experiência de escrever neste espaço, pretendo futuramente publicar um livro sobre metal, narrado do ponto de vista de um colecionador devotado. Espero que este blogue ajude a divulgar entre os falantes de português novidades relativas ao cenário do metal extremo mundial, assim como sirva de plataforma para rememorar os fabulosos anos oitenta.