domingo, 30 de junho de 2013

Necrovomit (BRA) "Intense Mutilation/Black Cross Demos"

Não é novidade para ninguém que a escolha de um bom nome é muito importante para uma banda. Na década de oitenta, talvez fosse até mais do que é hoje. Sem as facilidades da internet, bandas realmente underground podiam contar com pouco mais do que uma resenha chamativa num zine e um nome que soasse radical para divulgar seu som. Alguns tipos de nomes eram mais promissores do que outros. Algo com "necro", "hell", "butcher", "gore", "hammer" ou "vomit" soava extremo. Butcherhammer? Necrogore? Hellvomit? Que tal Necrovomit? Um grupo de fãs de death/black metal de São José do Rio Preto, no interior paulista, achou que esse último ficava mais legal. Estava formada, em 1988, uma das mais famosas bandas "malditas" do cenário deathcore brasileiro dos áureos tempos.
Nesta coletânea lançada por obra de quatro (!) selos diferentes, temos a compilação das duas demos que o Necrovomit gravou durante sua curtíssima existência de meros dois anos: "Intense Mutilation" e "Black Cross", ambas de 1988. A produção, como sempre, é sofrível, com todos os instrumentos superabafados e a guitarra com aquela sonoridade de "enxame de abelha". Na segunda demo, "Black Cross", a coisa é ainda pior. Mas o som, como também sempre acontece com demos de bandas radicais do cenário brazuca da época, é realmente cativante. Sarcófago (do "INRI"), Holocausto (do "Campo de Extermínio") e principalmente Sepultura (do "Morbid Visions") - ouça-se, por exemplo, as melodias simples e macabras que de vez em quando pipocam no som - são as influências principais. Até um pouquinho de Death da fase de demos dá pra sacar. As faixas tendem a ser curtas e sempre vão direto ao ponto, com quase nenhuma variação. "Insane Mutilation", faixa constante da primeira demo, ilustra bem essas características da música do grupo.
De bônus, foi incluída na coletânea a única demo do Evoked Damnation (gravada em 1989), banda que o vocalista Rotten Necrophiliac e o baixista (já falecido) Corpse Mutilator, do Necrovomit, formaram depois que esse acabou. A diferença musical entre as duas é mínima. O Evoked Damnation era um pouco mais rápido e contava com um segundo vocal rasgado na linha black metal - a proposta toda era mais black. É bem legal também, mas o Necrovomit tem mais carisma e história.
Quem viveu aquela época do underground brasileiro sabe que o Necrovomit é uma clássica demo band, tendo figurado ao lado de nomes igualmente "malditos" como NecrobutcherImpurity, Necrófago, Nuctemeron, Dissector, Túmulo de Ferro. Para quem está descobrindo agora aquela cena fantástica, fica aí a dica e, mais do que isso, a obrigação: correr atrás de material que é puro e clássico brazilian cult black/death metal!

O logo muito bacana do Necrovomit

A coletânea

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Nota aos leitores do blogue

Salve!
Sei que estou meio atrasado com as postagens. É que voltei há pouco do festival "Brazilian Ritual" e estive, até agora, bem ocupado terminando um material sobre os shows. Para compensar os atrasos, em breve disponibilizarei coisas bem legais aqui sobre o festival. E o material não se resumirá apenas a uma resenha do show. Também vou postar, nos próximos dias, duas novas resenhas sobre lançamentos que consegui nos últimos tempos. Uma será sobre clássica banda do underground death/black metal brazuca do fim dos oitenta e, a outra, sobre banda sagrada da cena death metal mexicana do início dos noventa. Aguardem!

domingo, 16 de junho de 2013

Bestial Warlust "Satan's Fist"

Depois de escavar o mais obscuro underground metálico, o selo americano Hellsheadbanger nos traz essa pérola que, até agora, certamente era desconhecida da maioria dos headbangers - ao menos de mim, era. Trata-se do último registro da lenda do war black metal australiano Bestial Warlust. Não, não estou falando do segundo full lenght da banda, o seminal "Blood and Valour" (de 1995), mas de uma demo posterior.
"Satan's Fist" foi gravada em 1996 pelos então dois membros restantes: Skullfucker (cordas/vocal) e Hellcunt (bateria). São apenas três faixas. Suficientes, entretanto, para mostrar que a banda, mesmo sentindo falta do carismático vocalista Damon Bloodstorm, ainda era capaz de compor material de primeiríssima qualidade. Talvez o fato não seja tão surpreendente, uma vez que o guitarrista Skullfucker sempre foi o principal compositor do grupo. A produção, de certo modo mais crua e também menos pesada, não é tão impactante quanto a dos dois lps anteriores. Ainda assim não compromete. As músicas seguem o estilo que a banda desenvolveu no "Blood and Valour". Vale dizer, são ultra-radicais (um war black metal original e extremo, reminiscente de Blasphemy e, mais remotamente, Sarcófago), mas um pouco mais bem estruturadas do que no álbum de estreia dos australianos, o animal "Vengeance War 'till Death". Até mesmo uma dose de black metal norueguês - que, à época, tomava de assalto o underground - pode ser identificado no som da demo. Entre as ótimas três faixas destaco "Left for Vultures", dotada de riffs e climas macabros que lembram até o saudoso Corpse Molestation (grupo dos caras antes de formarem o Bestial). Realmente, uma pena não terem gravado seu terceiro lp, pois o material aqui compilado pedia por um disco completo.
As cinzas ainda fumegantes do Bestial Warlust ajudaram a acender o fogo de várias outras bandas importantes no cenário australiano, como o fantástico Abominator e o Cemetery Urn (integrados pelo antigo vocalista do Bestial, Damon Bloodstorm), o Destroyer 666 (formado pelo seu outro guitarra, Keith Warslut), o Vomitor e o Gospel of the Horns (aos quais se juntou o batera Hellcunt). Nenhuma dessas bandas, entretanto, com a gloriosa exceção do Abominator, conseguiu se aproximar da fúria blasfema e caótica do antigo Bestial Warlust. Ao lado do canadense Blasphemy e do brasileiro Sarcófago, o Bestial Warlust forma a santíssima trindade do war black metal mundial. E tenho dito!

Satan's Fist - a demo derradeira, de 1996

Joe Skullfucker e Marcus Hellcunt

PS. A bem da verdade, o Bestial Warlust veio a lançar ainda uma faixa inédita depois da gravação dessa demo de 96, incluída na coletânea "Headbangers against Disco Vol. 1", lançada no ano seguinte pelo selo Primitive Art Records. Contudo, não sei dizer se essa faixa foi ou não gravada anteriormente à citada demo.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Embalmer "The Collection of Carnage"

Durante a explosão do death metal no princípio da década de noventa, a cena metálica mundial foi inundada por demos e eps de bandas que depois jamais conseguiram chegar a um full lenght. Muitas dessas bandas tinham extrema qualidade e não vingaram por fatores alheios ao mérito musical. Os fãs que se dedicavam a colecionar material desses grupos obscuros tinham lá seus favoritos. Um dos meus era o americano Embalmer.
Lembro de ter tido a felicidade de ouvir seu clássico ep "There Was Blood Everywhere" em meados dos noventa, então lançado pela Relapse. Na ocasião pensei que a banda poderia ter facilmente feito mais sucesso, porque sua música era excelente. Um death metal original, com vocais variados e desesperados (principalmente quando a cargo do segundo vocalista, Rick Fleming), riffs criativos, doses adequadas de melodias macabras, passagens cadenciadas realmente doentias e uma cozinha pra lá de nervosa (o batera, em especial, era insano). Tais eram as características do som do Embalmer no referido ep. Traços de Macabre (em alguns riffs e nos vocais gritados), Deceased do primeiro lp (nos andamentos criativos), Autopsy (nas partes mais doom) e Cannibal Corpse (pelo clima e temática totalmente gore) podiam ser identificados na música. Mas são apenas referências, já que o som do Embalmer tinha muita personalidade. Confira-se, por exemplo, a ótima e tétrica "May the Wounds Bleed Forever", faixa do ep de 95.
No disco 1 desta compilação, editada pelo atuante selo americano especializado em brutal death metal Sevared Records, temos, além do ep, as três demos anteriores da banda: "Into the Oven" (de 91), "Taxidermist" (live demo de 92) e "Rotting Remains" (de 93), bem como uma faixa inédita gravada em 92. Todas as demos são muito boas e mostram que o Embalmer progressivamente radicalizou seu som, incorporando influências de brutal death metal, bem evidentes na última demo - note-se, por exemplo, os típicos pig squeals do vocalista em "Bone Box", faixa da mencionada demo de 93.
No disco 2 temos o material da banda gravado depois de seu retorno à ativa, com uma formação quase inteiramente nova, em 2004. Foram perto de dez anos de ausência da cena. No full lenght "13 Faces of Death" a migração do Embalmer do old school death metal para o brutal death metal se completa. Na mesma toada há, ainda, duas promos, gravadas em 2009 e 2012. Não diria que a fase mais atual do Embalmer seja ruim. Porém, para o meu gosto, o material antigo é indiscutivelmente superior. Reconheço, entretanto, que o brutal death metal puro não está entre meus estilos prediletos.
Uma coletânea muito relevante, especialmente pelo disco 1, de uma das bandas "desconhecidas" mais legais do death metal noventista.

A compilação "The Collection of Carnage"

O clássico ep de 1995