terça-feira, 24 de setembro de 2013

Disgorge (MEX) "Gorelics"

Estou longe de ser fã incondicional de brutal death metal. Durante muito tempo ignorei o Disgorge mexicano exatamente porque o considerava (erradamente) uma banda arquetípica do estilo. Recentemente, aproveitando uma promoção da gravadora Nuclear War Now!, resolvi arriscar e comprar uma compilação de material antigo da banda, cobrindo o período anterior, e imediatamente posterior, ao seu primeiro full lenght (sou aficionado por colecionar material de demos). A compilação é fruto de parceria entre a conhecida Obliteration Records, do Japão, e a Embrace my Funeral, do México. O cd me custou três dólares e meio. Assim, se fosse ruim, não perderia muito dinheiro. Oh, boy...acho que foi a melhor compra na relação custo-benefício que já fiz na vida.
O que temos neste Gorelics é a reunião das duas demos lançadas pelo Disgorge (em 95 e em 96), mais dois ensaios antigos (de 94 e de 95), uma promo gravada logo depois do primeiro full lenght (em 98), além do split ep com o Squash Bowels, da Polônia (também de 98). Todo o material é absolutamente foda. Trata-se de um death metal predominantemente old school, pútrido a não mais poder, pesado ao ponto da indecência e mais sujo do que uma vara de mil porcos chafurdando em esgoto contaminado.
É bem verdade que as músicas constantes dos registros da segunda metade da década de noventa apresentam traços inequívocos de brutal death metal. Ainda assim, o material é de primeira. A principal virtude do Disgorge é que a banda não deixa de lado os riffs mórbidos e chumbados no peso mesmo quando toca death metal moderno - o que, infelizmente, não se pode dizer de muitas bandas do estilo, que facilmente abandonam o velho e consagrado power-chord em favor de bases que mais parecem brochantes exercícios de escala. Com efeito, sejam old school ou modernos, os riffs executados pelos mexicanos exalam competência e criatividade. Ouça-se, por exemplo, a faixa Scid, constante da promo de 98, na qual as influências antigas e modernas se misturam para dar gênese a um death metal absolutamente avassalador. Se todo brutal death metal soasse assim, eu seria fã do estilo.
O ponto alto, contudo, é mesmo o material gravado em 94 e 95. Refiro-me à primeira demo, de 95, e aos dois ensaios, um também de 95 e outro de 94. Neles, o death metal da velha escola se apresenta em sua forma  mais pura. O som, conquanto esteja longe de ser uma cópia, segue mais a linha da escola americana, com um pé na Flórida (Monstrosity do Imperial Doom) e outro na costa leste (Incantation antigo e Cannibal Corpse do Butchered at Birth). Sem embargo, uma miríade de outras influências pode ser notada: aqui uma pitada de death austríaco clássico, tipo Pungent Stench/Miasma; ali de death sueco antigo à la Grave do Into the Grave; acolá de Carcass do Reek of Putrefaction. Embora todas as músicas sejam ótimas, meu destaque vai para a apavorante Monument to my Remains, som tirado do ensaio de 94, que é, simplesmente, uma das coisas mais maravilhosamente imundas que já ouvi sob a rubrica do death metal - notem a forte influência do death sueco de raiz e de Pungent Stench nessa faixa em particular. Com toda a sinceridade, esse ensaio de 94, com suas meras duas faixas, entrou direto na minha lista de melhores demos de death metal de todos os tempos!
Não fosse o bastante, ainda há que se mencionar com destaque a primeira demo oficial da banda, Through the Innards, gravada em 95. Embora não seja tão assassina quanto os ensaios, seu poder de fogo é inegável. Confira-se, a título de ilustração, a faixa Grotesque Devourment, na qual a alta categoria do Disgorge para compor riffs matadores fica mais uma vez comprovada.
Para fechar com maestria a coletânea, constam duas covers, muito legais, gravadas em 2001: uma do clássico Regurgitate, da Suécia, e outra dos velhos guerreiros do underground mexicano, o Anarchus. A sonoridade aqui nada tem de death metal, seja old school ou moderno, é totalmente splatter tradicional.
Certamente uma das compilação de demos mais relevantes já lançadas no mercado.
Obrigatória!


A capinha profissional da primeira demo

Foto da antiga formação em power trio

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