segunda-feira, 1 de julho de 2013

Anatomia "Decaying in Obscurity"

A nova onda de death metal old school desconhece fronteiras. Uma das bandas mais relevantes da atual cena vem do Japão e foi batizada com o nome latino Anatomia. Embora o grupo tenha sido formado apenas em 2002, seus integrantes são macacos-velhos no underground, já estando por aí a fazer barulho desde o início da década de noventa, época em que tocavam nos saudosos Transgressor e Necrophile.
A proposta do Anatomia é detonar um doom/death metal simples, porém sofisticado, cavernoso e pesadíssimo, com a preponderância de andamentos morosos mesmo nas partes um pouco mais rápidas (que nunca são, de fato, muito rápidas). A influência de Autopsy antigo é declarada, o que se percebe até pelos inúmeros covers que, ao longo da carreira, os caras já gravaram da banda de Chris Reifert. Em seu disco anterior, o bom “Dissected Humanity”, o Anatomia trilhou os caminhos mais tradicionais do estilo, recheando suas músicas com passagens meio-tempo. Já neste novo full lenght, “Decaying in Obscurity”, lançamento da Nuclear War Now!, a banda dá um passo adiante (ou será que para trás?) e imprime ao seu som uma cadência ainda mais arrastada. O resultado, em faixas como “Imminent Death” e “Eternally Forgotten”, é a transformação do seu clássico doom/death em algo próximo do funeral doom, com a presença de harmonias dedilhadas muito eficientes, que lembram um dos gigantes do estilo, o americano Catacombs. Outras influências também são notadas, como um flerte com o stoner no main riff de “Sinking into the Unknown” (mais ou menos na linha do que fazem os finlandeses do Hooded Menace) e até um andamento punk em “Garbage”. Um teclado discreto também surge aqui e ali, dando um molho legal no som. Ao contrário da primeira impressão que tive quando assisti ao Anatomia se apresentar no festival da NWN!, no final do ano passado, em Berlim, as guitarras não perderam espaço com a inclusão desses teclados. A única exceção, talvez, ocorra na faixa “The Unseen”, em que a melodia ficou, na minha opinião, um pouco exagerada.
A base da música do Anatomia, contudo, continua a ser o bom e velho doom/death. Amalgamado com as referências antes citadas, o resultado é um som mega-ultra pesado, que a banda define como “dismal slow death metal”. Vale destacar, ainda, o excelente vocal gutural (um dos melhores do atual death metal old school) e a ótima produção, que valorizou com competência os elementos mais abismais do som da banda. Embora todas as faixas tenham seus bons momentos, ressalto a fantasmagórica "Dead Body Art", música que já havia aparecido, em outra versão, na demo “Human Lust”, gravada em 2009. Trata-se, simplesmente, da melhor composição da carreira do Anatomia. Seu riff tétrico (totalmente death metal), levada arrastada e clima lúgubre ilustram muito bem o que deve ser o inesperado encontro com um espírito errante num cemitério tomado de neblinas miasmáticas em noite enluarada. Death metal moroso e absurdamente sombrio, especialmente recomendado a quem não se melindra facilmente diante dos terrores inauditos da escuridão.


A bela capa de "Decaying in Obscurity" 


Anatomia detonando ao vivo 


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