sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Antichrist Hooligans (Hammer of Damnation)





Uma coisa fundamental que descobri depois de muitos anos comprando discos foi que existem atalhos para o colecionador encontrar bandas legais. Mais especificamente, atalhos que podem encurtar o caminho na busca por um som de qualidade, de modo a evitar que o aficionado por música venha a perder tempo e dinheiro em demasia com porcarias rematadas ou bandas simplesmente descartáveis.
Um desses atalhos – um dos mais promissores – é conseguir identificar selos que sejam confiáveis. Selos que não lancem discos em escala industrial, visando a faturar pela quantidade e não pela qualidade de suas bandas. Selos que mantenham um padrão estético de qualidade. Não raro um padrão estético comprometido com algum estilo específico do metal. Em suma, é a velha história: selos que não sejam puramente comerciais. A verdade é que quando a gravadora é de respeito, seus lançamentos tendem a manter um nível mínimo de excelência. Enfim, você até poderá vir a não gostar, evidentemente, de determinado disco, de determinada banda, de um selo desses, mas dificilmente dirá que se trata de música de baixa qualidade.
A gravadora e distribuidora Hammer of Damnation, em minha opinião, inclui-se nesse seleto grupo de selos brasileiros respeitáveis.
Fundada em meados dos anos noventa pelo guitarrista e vocalista da banda de black metal paulista Evil, o Luiz Carlos de Oliveira (aka Warlord), a Hammer of Damnation sempre se destacou por dedicar-se ao patrocínio de grupos obscuros e radicais, inclusive em matéria lírica, pinçados, majoritariamente, do underground extremo nacional. Embora o black metal seja o foco principal do selo, a gravadora também cobre outras vertentes do metal, como o death metal old school e até o black thrash metal oitentista. Seu catálogo on-line oferece muitos títulos interessantes (vários deles a preços convidativos) e está repleto de bandas menos conhecidas, embora relevantes, do cenário black metal europeu, marcadamente as que colhem influências do folk e do viking metal.
Vale ressaltar que a Hammer of Damnation acabou de celebrar um acordo com a polêmica gravadora alemã Darker than Black, por meio do qual passará a atuar como sua filial oficial no Brasil.
A seguir vou destacar alguns bons lançamentos recentes do selo, assim como alguns mais antigos que, acho, merecem a atenção dos aficionados por metal extremo. Todas as bandas aqui mencionadas são brasileiras.

Antichrist Hooligans
"We Will Piss on your Grave"
Quem aí se lembra do velho Necrobutcher? Seu ex-vocalista, o Cristiano “Kranium” dos Passos, depois de anos sumido, volta a atacar (ao lado de outras figuras carimbadas do underground extremo de Santa Catarina), agora como batera desse ótimo Antichrist Hooligans. Diferentemente do Necrobutcher, o som do A. H. nada tem a ver com death ou noisecore. O que temos aqui, em seu disco de estreia, é um black thrash metal fiel ao som germânico dos anos oitenta – “nuklear metal punk nekro thrash metal”, segundo definição da banda –, que soa como um rebento bastardo de Destruction e Kreator dos primeiros lps com uma queda pelo punk. Ouça-se, por exemplo, os agudos do vocalista (que é puro Schmier) ou os riffs despejados pelas guitarras, uma mistura de “Endless Pain” com aqueles fraseados angulosos do “Infernal Overkill”. A bateria também segue a linha teutônica old school, revelando uma sonoridade mais seca e menos thrash que aproxima o som da banda do speed metal, assim como também acontecia nos primeiros plays dos grupos alemães que lhe servem de modelo. Entre as doze faixas que compõem o disco, destaco a ótima "Black Masses in Paradise", dotada de riffs empolgantes e uma parte cadenciada, ali pelo meio da música, capaz de arrancar a cabeça do ouvinte. Sem dúvida a melhor banda de retrothrash do Brasil.

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